quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Iniciação à Literatura Brasileira - Antônio Cândido.

(artigo publicado em 2015 por Ricardo  Silva - ver link ao final)

O quase centenário intelectual brasileiro Antônio Cândido é uma dessas sumidades das nossas letras. Considerado por este que aqui escreve como um dos maiores – para não dizer maior – crítico literário brasileiro, Cândido é responsável por obras seminais da crítica e teoria literária produzida no país. Convidado para escrever uma obra coletiva a ser editada na Itália como comemoração ao quinto centenário da “descoberta” da América, o crítico compôs um resumido guia histórico da literatura brasileira. Como o projeto não vingou, o resumo tomou forma e se transformou, após algumas alterações, nesse “Iniciação à Literatura Brasileira” (Ouro Sobre Azul, 2010). 

 
As discussões a respeito da história da literatura brasileira são vastas, amplas e profundas. Não podendo, portanto, ter critérios absolutamente válidos para fazer uma definição cabal dos meandros que perpassam todo o processo de construção histórico da nossa literatura. O livro de Cândido, tampouco, se arvora desse pressuposto definidor. O que encontramos nas pouco mais de 130 páginas do resumo, é uma divisão sucinta – uma introdução – dos principais períodos pelos quais passou a nossa literatura: desde dos primeiros documentos e textos confeccionados já em terra recém “descoberta”, que contam com forte influência europeia – influência essa que perdura ainda em diversos aspectos da produção literária nacional -, até os escritores modernos, com poucas alusões a importantes nomes do cenário dos anos 2000 nas nossas letras – o que vai além de uma simples introdução. 

O livro é dividido em três momentos. 

1) “Manifestações literárias”: momento que vai do século XVI a meados do século XVIII e é fortemente marcado pela transposição de modelos literários já consolidados nos sistemas da literatura europeia, e que aqui teve múltiplas funções como política, religiosa e profundamente social. Ou seja, não houve, em terras brasileiras, o nascimento de uma literatura brasileira. O que aconteceu foi uma transformação a medida que uma nova sociedade também tomava corpo. É desse período que temos os escritos do “patriarca da nossa literatura: José de Anchieta (1534-1597)”. Anchieta é responsável pelo primeiro livro produzido no país e também por ser um dos raros a compor peças exclusivamente literárias em quatro línguas – português, espanhol, latim e tupi -, muitas vezes mesclando-as. O religioso também foi o provocador da valorização do tupi, o que gerou nas autoridades da época medidas de proibição do uso da língua indígena. Esse é o período em que as crônicas de viagem, escritos religiosos e a “literatura de senhores” predominaram quase que absolutamente. A exceção desse momento vem de Gregório de Matos que, porém, não fugiu dos moldes da tradição europeia na produção de sua obra. 

2) “Configuração do sistema literário”:  se no primeiro ainda não tínhamos um sistema propriamente dito, nesse segundo momento – que vai do século XVIII até o final do Romantismo – temos os esboços de um sistema literário melhor desenhado. É a partir daí que temos uma produção intelectual em terras brasileiras, onde as primeiras manifestações de intelectuais da colônia começam a florescer. Cândido pincela rapidamente as obras e escolas dessa época, como o Arcadismo e o Romantismo, destacando as diversas transformações sociopolíticas, e também de alguns movimentos pouco preponderantes, como o Indianismo, que o professor Cândido chama de “um fenômeno de adolescência nacionalista na literatura brasileira”. É aqui nesse momento que temos o primeiro reconhecimento de uma literatura brasileira completamente separada de Portugal, indicado pela obra “Résumé de l’Histoire Littéraire du Brésil” do crítico francês Ferdinand Denis. No mais, Antônio Cândido desfila uma série de obras e autores importantes para a configuração do nossos sistema literário: Basílio da Gama, Tomás Antônio Gonzaga, Sousândrade, Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Visconde de Taunay, Joaquim Manuel de Macedo, Bernardo Guimarães e o maior nome da ficção brasileira dessa época, José de Alencar, para citar alguns. É, então, com essa base, que o sistema então se consolida. 

3) “O sistema literário consolidado”: a obra do escritor que definiu essa consolidação foi a de Machado de Assis, o maior nome das nossas letras. Foi graças a obra desse gigante, que o nosso sistema literário tomou características maduras e pode andar, até certo ponto, com suas próprias pernas: “Sua obra é variada e tem a característica das produções eminentes: satisfaz tanto aos requintados quantos aos simples. Ela tem, sobretudo, a possibilidade de ser reinterpretada à medida que o tempo passa, porque, tendo uma dimensão profunda de universalidade, funciona como se se dirigisse a cada época que surge”. É nessa parte de seu resumo que a límpida escrita de Cândido toma cores mais fortes e delineadas. Nos é apresentado o rico leque da nossa literatura, com grandes nomes do Realismo, do Modernismo, e as principais e mais relevantes obras desse período.
A pequena obra, em tamanho, do professor Antônio Cândido serve como uma das mais adequadas, cultas e intelectualizadas introduções ao profícuo universo da literatura nacional. Uma obra necessária não somente para estudantes da academia, mas também para curiosos sobre as peculiaridades da formação da nossa tradição literária. 

(fonte: https://roedordelivros.wordpress.com/2015/10/29/introducao-a-literatura-brasileira-antonio-candido/)

Entrevista com autor(a) - Ironi Jaeger

Gaúcha, tchê. Batalhadora. É uma escritora nova e que precisa ser melhor conhecida. Aproveite o que ela tem a dizer!





1 - Fale um pouco sobre sua trajetória de vida, antes de se dedicar a literatura.
Minha vida sempre foi dividida entre o trabalho, a casa e os filhos. Quando esses cresceram, pensei em viver um pouco, mas fui surpreendida com uma grave doença do meu marido, câncer, perda dos rins, hemodiálise.
Foram doze anos de luta com constantes idas e vindas ao hospital, e longas internações.
Tornei-me assim uma espécie de refém voluntária, já que ele passou a depender de mim para tudo.
Passei a não ter mais fim de semanas, feriados… Estava em prisão domiciliar, e assim para passar o tempo nas emergências, tinha como companheiros os livros.

2 - Quando descobriu sua vocação para escrever?
Desde a infância tive facilidade para escrever ou contar histórias. Tirava as notas mais altas em português, e o primeiro lugar nas redações escolares.
Na juventude, escrevia peças de teatro para as encenações de natal, e era muito gratificante ver as pessoas encenando meus escritos.

3 - Fale um pouco sobre os livros que já publicou.
O primeiro foi O jogo das Pulseiras - os cromados, resultado do projeto-pena-cega.
 É uma trilogia que brinca com a situação atual do Brasil. Em 2015, quando o idealizamos, imaginamos uma corporação por trás da corrupção. Na trama, compramos deputados, senadores para que aprovassem nosso projeto.
Criamos um detetive para investigar a corrupção e matamos alguns deles (risos) e agora. estamos elaborando o segundo.



O segundo Ofanins Entre o Céu e a Terra, trata-se de um relato da minha visão sobre os anjos e suas funções, e da luta deles em proteger os seres humanos.



O terceiro é um conto de suspense policial chamado O Segredo da Família Romans. Uma família rica vive uma vida de aparente perfeição, até que um membro é assassinado e todos os segredos sombrios vem a tona.
Tenho ainda contos, crônicas e poesias, publicadas.

4 - Existe um que você gosta mais? Por quê?
Gosto do Segredo da Família Romans, por ser um suspense policial, foi muito divertido mudar o assassino enquanto todos esperavam pelo obvio. Os comentários foram de surpresa e isso me deixou bastante feliz.


5 - Comente sobre sua experiência com editoras. Ou você é adepto a produção independente?
Por enquanto sou independente. Trabalho agora para o Site Leia Livros e meus livros sairão com o selo deles.

6 - Nas entrevistas e bate-papos que acompanhamos na internet, verificamos que existe uma preocupação muito grande com a revisão. Há livros sendo publicados sem revisão de espécie alguma, nem a técnica (própria da editora) nem a ortografia/gramatical. O que você pode nos dizer a respeito? No seu caso particular você contrata um revisor(a) ou a editora se encarrega disso?

Lamento muito que os livros sejam publicados sem revisão, existem bons revisores, e o prazer da leitura perde muitos pontos quando não há uma revisão adequada.
Para corrigir a ortografia existem bons programas, mas é preciso haver estética no texto.
Quanto às editoras: falharem na revisão, creio que estão depreciando seu próprio produto. E falhando com seus clientes e com os leitores.
Sim, eu tenho minha revisora a Nell Morato, que também é a revisora do Leia Livros.

7 - Outro ponto chave para os novos autores é a divulgação das suas obras. Pode nos dizer de sua experiência a respeito?
Agora estando com o selo Leia Livros, minha divulgação é automática com o site. O que torna minha tarefa bem mais fácil.
Divulgar é trabalhoso e cansativo. Mas o escritor, precisa se tornar conhecido, alguns gostam de “tretas” para estarem na boca do povo, eu particularmente prefiro ficar longe desse tipo de atitude.

8 - Bienais e feiras de livros são importantes para os novos autores?
Muito. Creio que é um modo excelente de divulgação e captação de leitores. Se as vendas em um primeiro momento não forem boas, pelo menos fez-se presente, mostrou seu produto e com isso aumentou muito a sua chance de ser visto pelos leitores e pelas editoras.

9 - Ouvem-se muitos comentários depreciativos sobre a literatura brasileira contemporânea. É comum ouvir-se algo do tipo “não gosto, não leio autores nacionais.” Em seu entendimento o que explicaria esse tipo de assertiva?
Não gosto, não leio os autores nacionais, deveria ser substituído por, não conheço, não me interessei ainda.
Eu particularmente acho que quem perde são eles (risos). Se lessem, conhecessem como eu conheço, saberiam que temos livros melhores que os estrangeiros, com apenas uma diferença, não são nomes famosos. Tenho me surpreendido com histórias bem escritas, coerentes, divertidas e emocionantes.
Somos tão bons como eles, mas somos meros desconhecidos.

10 - A partir de sua experiência pessoal, o que poderia dizer para aqueles e aquelas que pretendem publicar livros?
Escrevam e publiquem. Se esse for seu sonho, faça.
Até porque quem publica um livro sabe o quanto é trabalhoso, e automaticamente, passa a ter uma nova visão de contexto, o que o levará a valorizar ainda mais os livros.

Quilombo dos Palmares é destaque em entrevista com o autor Jp Santsil


Meu nome é João Paulo, porém sou conhecido pelos meus amigos e familiares como Jp. Nasci em Salvador, Bahia, onde morei também na Ilha de Itaparica. Sou professor de Capoeira Angola e ecoalfabetizador e permacultor, onde tenho um programa de educação ambiental e cultural com trabalhos locais e internacionais.
Atualmente, moro em Israel, onde constituí uma linda família. Aqui, trabalho com construção e manutenção de ambientes aquáticos ecológicos, agrofloresta e agricultura orgânica policultural. Também sou músico percussionista e amo escrever. Sou também estudante e praticante de Alquimia Operativa, Kabbalah, Gnosticismo, Sabedoria Essênica e de Cultos Africanos e Nativos Brasileiros.

“Veracidade reunida a fantasia, isso é teoria histórica; retratando que toda história que nos é relatada nas escolas e universidades e nos demais grupos de estudos sobre Palmares não passa de teoria e imaginação dos poucos historiadores que escreveram sobre o caso.”

Boa Leitura!

Escritor Jp Santsil, é um prazer contarmos com a sua participação na Revista Divulga Escritor. Conte-nos o que despertou inicialmente o seu gosto pela história do Quilombo dos Palmares?
Jp Santsil - Eu, praticamente, cresci ouvindo histórias e escutando músicas a respeito do Quilombo e Zumbi dos Palmares. Nasci em Salvador, capital da Bahia, o verdadeiro centro da cultura afro-brasileira. A capital baiana é a cidade com maior número de descendentes de africanos no mundo, seguida por Nova York, majoritariamente de origem iorubá e congolesa, vindos da Nigéria, Togo, Benim e Gana, Congo e Angola. Depois da ditadura militar (1985), os blocos afros como Ilê Aiyê (1974), o Malê Debalê (1979), Olodum (1979), Muzenza (1981), Cortejo Afro (1998) e o Bankoma (2000) se reergueram na capital baiana, onde as suas maiores inspirações para as letras dos seus enredos foi Palmares e seus heróis. Isso contribuiu muito para minha inspiração desse meu primeiro livro.

Apresente-nos “O FILHO DAQUELA QUE MAIS BRILHA: A incrível saga do Quilombo dos Palmares no Novo Mundo”
Jp Santsil - Essa obra nos conta a história de um ancião Griot chamado Djeli, um descendente dos antigos povos Mandês, os Mandinkas que se transforma no tutor espiritual e moral do jovem príncipe de Palmares N’zambi, depois que ele regressa a N’gola N’janga, o K’ilombo. Djeli torna-se o guardião do Sagrado e Eterno Contínuo, pacto feito pelos seus antepassados, os primeiros africanos. Djeli vê em N’zambi o cumprimento de uma antiga profecia, pela qual de tempos em tempos, no fim e no início de uma nova era, quando a humanidade está em pleno caos, surge um guerreiro libertador que é o Filho daquela que mais brilha. E assim se desenrola uma incrível saga nas terras do Novo Mundo. Mas a obra vai muito mais além do que se possa imaginar... Há mistérios!

Leia mais clicando no link ou imagem abaixo:
http://portalliterario.com/entrevistas/entrevistas-brasil/434-quilombo-dos-palmares-e-destaque-em-entrevista-com-o-autor-jp-santsil

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Entrevista com autor(a) - Bruna Longobucco

Vamos conhecer hoje uma autora mineira que conheci na Bienal de São Paulo. 

Bruna Longobucco é mineira de Belo Horizonte. Escritora independente há 13 anos e com 16 livros publicados. Tem obras para o público adulto, juvenil e infantil. Apaixonada por Literatura começou a escrever ainda na infância. É graduada em Comunicação Social e Direito e pós-graduada em Revisão de Texto, entre seus originais há poesias, contos, crônicas, músicas e romances.
Fanpage: https://www.facebook.com/blongobucco/






1.      Fale um pouco sobre sua trajetória de vida, antes de se dedicar à literatura.



A Literatura faz parte da minha vida desde que me entendo por gente, então é difícil falar sobre minha vida antes de me dedicar a ela. Aos 8 anos já era uma leitora assídua. Apaixonei-me por livros muito cedo e comecei a versificar aos 9. Depois vieram textos, contos e aos 16 escrevi meu primeiro romance. Enquanto eu vivia lendo e escrevendo, estudei, fiz duas faculdades, tirei minha OAB, mas os livros sempre me chamavam. Publicar foi outra história.



2.      Quando descobriu sua “vocação” para escrever?

A vocação eu descobri bem cedo, como eu disse, aos 9 anos já versificava. Do nada me inspirava. Mas só entendi como isso era essencial pra mim, quando prestei concursos públicos. Já num cargo jurídico, eu entendi que não podia viver sem me dedicar aos livros. Muita gente me julgou quando pedi exoneração. Não me importei e fui em frente.



3.      Fale um pouco sobre os livros que já publicou.

São 16 livros publicados. Contos, crônicas e romances. Os romances são os que me dão mais alegria. 

O menino que tecia sonhos, 2004;  

Além das nuvens, 2005; 



Luz do sol, 2006; 

O vale da liberdade, 2007; 


Um outro olhar, 2008; 

Sem destino, 2009; 

Meu caminho de lua, 2010; 

Centúrias, 2010; 

Duas Luas, 2011; 


Uma nova chance,  2012; 


O enigma da estrela, 2015; 


Mais que uma escolha, 2016; 


O outro lado do não, 2016; 

Um motivo pra sorrir, 2016; 


O novo mundo das letrinhas, 2016; 


O meu melhor amigo, 2017.







4.      Existe um que você gosta mais? Por quê?

Sem destino. Porque traz um universo rural que vivenciei boa parte de minha vida. E a personagem é forte, ela representa busca e reencontro, o que é parte de todos nós. 



5.      Comente sobre sua experiência com editoras. Ou você é adepta de produção independente?



Sim, posso dizer que sou adepta da produção independente. Vou explicar o motivo. Sobre as editoras, existem duas formas de publicação: As que não cobram para publicar e as que cobram para publicar. No início, quando ainda não sabia nada sobre autopublicação, a primeira e maior dificuldade que encontrei foi obter uma avaliação dos originais. O que muito se ouve é que as editoras que não cobram para publicar recebem pilhas e pilhas de livros e muitos são descartados sem análise. Eu cheguei a enviar alguns trabalhos, mas logo recebi de volta e me deu a impressão que estavam intocados. Naquele tempo eles ainda devolviam. Um dia recebi uma carta com a recusa da editora para outro autor. Ou seja, não era pra mim, mas veio no meu endereço. Nossa, isso marcou o começo da minha carreira como autora independente. Acabei desistindo das editoras não pagas, pois percebi que nem sempre existe um tratamento adequado na análise dos originais. Claro que devem existir exceções. Estou falando de uma experiência. Fato é que a partir daí decidi seguir em frente sozinha.



Antes vou falar brevemente sobre as editoras que cobram para publicar, os custos são altos. Eu já recebi orçamento que chegou a R$ 160 reais por custo unitário de um livro, acredite. Várias editoras hoje abrem espaço para publicação sob demanda, ou seja, o autor paga e publica sob um determinado selo editorial, mas os contratos para novos autores custam aproximadamente 14 mil reais, sem nenhuma divulgação e distribuição que realmente dê um retorno para o autor.  Daí, você investe muito e o livro se torna um desconhecido na última prateleira de uma livraria qualquer sem nenhuma chance de chegar ao leitor. Já passei por isso e fiquei na mesma.

Então, apesar de ter realizado alguns contratos com editoras, pequenas e grandes, acabei chegando à conclusão de que o melhor era seguir meu caminho como autora independente. Terceirizar os serviços e publicar por minha conta, sempre buscando o melhor preço e qualidade.  



6.      Nas entrevistas e bate-papos que acompanhamos pela internet, verificamos que existe uma preocupação muito grande com a revisão. Há livros sendo publicados sem revisão de espécie alguma, nem a técnica (própria da editora) nem a ortográfica/gramatical. O que você pode nos dizer a respeito? No seu caso particular, você contrata um(a) revisor(a)? Ou a editora se encarrega disso?



Hoje a gente percebe que angariar autores virou o foco de muitas editoras, porque eles pagam para publicar, trata-se de um público enorme, mas e a qualidade do que se publica, como fica? 

Eu sou autora independente, repito, mas não abro mão da qualidade do que faço, seja no miolo do livro ou na impressão. Eu sou revisora de texto há 9 anos. Fiz inclusive especialização. E mesmo assim hoje faço questão de submeter meus livros à revisão. E olha que faço isso depois de reler atentamente, mesmo minha revisora sendo muito competente. Não vou dizer que criatividade depende da técnica, não depende, mas para oferecermos nossos livros com qualidade precisamos sim nos importar com nosso texto. Vejo com tristeza essa postura de não revisar, essa despreocupação por parte das editoras e de alguns autores, muitos na verdade. Já ouvi autor falando que não revisa para economizar nos gastos de edição. É uma economia que só traz prejuízo.



7.      Outro ponto chave para os novos autores é a divulgação de suas obras. Pode nos dizer de sua experiência a respeito?



Sim, o autor quando começa nesse meio pensa que imprimir o livro é a parte mais difícil por causa dos custos de edição, mas não é. Depois vem a distribuição. Hoje quase não há distribuição de autores independentes. Então, você gastou, se envolveu e não tem como chegar às gôndolas de uma livraria. E não bastasse a dificuldade de distribuir, vem a divulgação, que também tem alto custo. E é outra barreira. Como apresentar o livro para o leitor? Sabemos que estatisticamente o Brasil é um país de não leitores. Ora, se somos um país de não leitores, imagine como é difícil um novo autor independente cativar um leitor? Porque infelizmente tanto o autor independente quanto a Literatura Nacional ainda sofrem preconceito. O que eu fiz e faço? Conquistar um leitor de cada vez. Divulgo nas redes sociais, tento ir às feiras e bienais, faço parcerias com blogueiros, e principalmente, vendo meus livros por indicação. O retorno e o carinho do leitor é a razão pela qual persisto há 13 anos como autora independente.



8.      Bienais e feiras de livros – são importantes para os novos autores?

Muito. Não importa o lugar e o público estimado, se você tem como ir vá. Eu demorei anos para interagir pessoalmente com o público. Publicava mais virtualmente e fazia lançamento para os parentes, amigos, colegas, conhecidos. Precisamos ir além do que nos é confortável. E já que não estamos na mídia, ta humildade é requisito fundamental. É no contato direto com o leitor que você vai ouvir a verdade sobre o seu livro, doa a quem doer. Não adianta eu falar sobre o que eu escrevo, mas sim a opinião de quem lê, de quem pega o livro impresso, de quem analisa a capa. Além disso, só nas feiras e bienais conseguimos esgotar nossas tiragens. Algumas não dão retorno, outras dão, não desanime, é assim que funciona.  



9.      Ouvem-se muitos comentários depreciativos sobre a literatura brasileira contemporânea. É comum ouvir-se algo do tipo “não gosto, não leio autores nacionais”. Em seu entendimento o que explicaria tal tipo de assertiva?

Só quem não lê a nossa nova literatura pode falar assim. Existe muita coisa boa chegando, mas a maioria dos poucos leitores assíduos em nosso país ainda não dão chance para a novidade, justamente por esse preconceito em relação ao que é  Nacional, ou simplesmente pela adoração do que vem de fora. Gostar de livro nacional, conhecer o que é novo, não desabona a literatura estrangeira. Cada uma tem seu lugar e é importante. Mas também não podemos esquecer que alguns leitores estão calejados por livros ruins e mal escritos que comprometem os excelentes livros recém-lançados. 



10.  A partir de sua experiência pessoal, o que poderia dizer para aqueles e aquelas que pretendem publicar livros?

Se você ama o que faz e não se imagina vivendo sem a escrita, vá em frente e seja persistente. Porém, cuidado com promessas editoriais enganosas, gastos desnecessários, da mesma forma, aprimore seu texto, leia, estude, leia mais e busque dar sempre o melhor de si no que faz.