quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Entrevista com autor(a) - César Luis

Continuando a série de entrevistas que pretendemos fazer, para dar mais visibilidade aos novos autores e autoras, apresento hoje César Luis, a quem tive o prazer de conhecer na Bienal de São Paulo e maior prazer ainda em partilhar um estande com ele em Brasília e Fortaleza.




1. Fale um pouco sobre sua trajetória de vida, antes de se dedicar à literatura.
Eu nasci e cresci em São Bernardo do Campo – SP, fui educado em um grande colégio católico e desde sempre fui atraído pelas artes e esportes. Os esportes ainda têm espaço importante na minha vida, mas as artes ocupam a maior parte do meu tempo. Nos últimos 30 anos eu me dediquei à música e às artes plásticas, mas foi a atividade marginal de escrever que acabou prevalecendo.

2. Quando descobriu sua “vocação” para escrever?
Descobri a escrita escrevendo. Nos meus tempos de Faculdade de Direito comecei a escrever ensaios sobre filosofia (o que me custou o diploma, pois a filosofia destruiu toda ilusão que ainda me restava sobre o universo jurídico). Antes eu desenvolvia meus pensamentos em forma de poemas e letras de música, mas foi a prosa que mostrou o melhor caminho pra satisfazer minhas necessidades de expressão artística.

3. Fale um pouco sobre os livros que já publicou.
Até hoje são cinco títulos. O primeiro e o segundo (Pedras Negras e Saluh) abordam temas comumente conhecidos como “Teorias da Conspiração”, mas não se limitam a isso. Apesar de ir um pouco além do “normal”, esses dois livros são bastante interessantes no conteúdo.

 



















Meu terceiro livro se chama The Holy Divers vol.1 – A Diáspora dos Mistérios. Foi escrito originalmente em inglês e foi lançado no Brasil em versão bilíngue. A estória se passa nos anos 90dC e aborda o confronto cultural entre a forma milenar de adoração à Mãe Natureza (paganismo) e a nova ordem em ascenção conhecida como “cristianismo”. A distorção ampla e profunda das palavras do sábio judeu (Doutrina de Paulo) acabou por massacrar e distorcer mais de 8000 anos de organização humana simbiótica em relação à Natureza (sem contar com o árduo trabalho dos copistas conhecidos como zelotas Essênios que serviram à “obra do Senhor” disseminando a doutrina do pecado e salvação por toda a Palestina. Os antigos pergaminhos incessantemente copiados na região do Mar Morto acabou por se espelhar  por todo o mundo). É uma estória muito bonita e repleta de revelações.
 


Recentemente foi lançado “A Menina que não gostava de Cor-de-Rosa” que foi uma colaboração minha com o escritor goiano, Carlos Pompeu (Boriska Petrovna). O livro aborda o tema da naturalidade do sobrenatural e como a ignorância combina com a ganância (igual queijo e goiabada).



Finalmente meu último livro se chama “A verdade sobre a Ilha Green”. Uma estória para jovens de 12 a 99 anos que aborda de forma clara e simples alguns problemas fundamentais que colocam em risco a existência humana na Terra como a exploração predatória do meio ambiente, a banalização do valor da vida entre outros. O livro é o primeiro de três volumes nos moldes da antiga coleção Vaga-Lume da Ed. Ática.



4. Existe um que você gosta mais? Por que?
The Holy Divers é meu favorito porque nele eu aprimorei minha capacidade de falar sobre coisas complicadas de forma simples. Esse livro é o primeiro volume de uma “duologia” dedicada a falar de forma franca e aberta sobre grandes mentiras. Desconstruir mentiras passou a ser minha motivação como escritor e meu grande objetivo de vida.

5. Comente sobre sua experiência com editoras. Ou você é adepto de produção independente?
No ano de 2013 escrevi meu primeiro livro e enviei a diversas editoras. “Pedras Negras” foi lançado em 2014 por uma editora do Rio de Janeiro, mas o trabalho de apoio foi muito fraco (quase inexistente). Resolvi que eu poderia fazer melhor se lançasse meu trabalho de forma independente e foi isso que fiz. A experiência com a editora carioca me deu perspectivas e se hoje tenho cinco livros editados é por causa desse pessoal corajoso que resolveu apostar no meu livro.
Em 2015 eu e minha esposa montamos a Luna Editora para lançar meu material e hoje estamos começando a lançar outros autores como o potiguar Abração França e a baiana V. Evans. Acreditamos em um modelo de negócio do tamanho de nossa perna, quero dizer, não temos interesse em invadir o mercado de livros, mas sim dar oportunidade a escritores que tem vontade de trabalhar pessoalmente seus livros junto ao leitor.

6. Nas entrevistas e bate-papos que acompanhamos pela internet, verificamos que existe uma preocupação muito grande com a revisão. Há livros sendo publicados sem revisão de espécie alguma, nem a técnica (própria da editora) nem a ortográfica/gramatical. O que você pode nos dizer a respeito? No seu caso particular, você contrata um(a) revisor(a)? Ou a editora se encarrega disso?
Revisão de texto é o grande pesadelo do autor independente. Eu mesmo faço as revisões dos livros que lançamos e as falhas são um problema a ser superado. Eu mesmo faço as artes da capa e a diagramação dos textos e confesso que ainda não descobri um método mais eficiente para evitar erros do que a calma e a paciência. Um texto precisa ser revisado por pelo menos três vezes por pelo menos duas pessoas. Esse processo leva tempo, mas é a única forma de garantir que os erros não sejam impressos.

7. Outro ponto chave para os novos autores é a divulgação de suas obras. Pode nos dizer de sua experiência a respeito?
Confesso que não vejo eficiência nos meios eletrônicos de divulgação. Na minha experiência, a forma mais eficiente de mostrar um trabalho é estando presente em feiras e eventos literários. É conversando e interagindo com o leitor que o escritor iniciante conquista seu espaço. 

 8. Bienais e feiras de livros – são importantes para os novos autores?
Imprescindível!!! O escritor iniciante tem que estar nas feiras. Se alguém acha que o caminho é estar nas prateleiras das grandes livrarias, logo vai perceber que a coisa não é bem assim. Para chegar até o leitor, o autor independente precisa simplesmente estar onde o leitor está. Sem esse trabalho de base, não há resultado.

9. Ouvem-se muitos comentários depreciativos sobre a literatura brasileira contemporânea. É comum ouvir-se algo do tipo “não gosto, não leio autores nacionais”. Em seu entendimento o que explicaria tal tipo de assertiva?
Preconceito e falta de interesse pelo novo. Essas duas atitudes são padrão em todas as áreas da atividade humana. Eu tenho conhecido muitos escritores talentosos nas feiras que participo e essa é a prova cabal da visão estreita do leitor médio. A colonização cultural do Brasil anda a plenos vapores só que não enxergamos mais. Nunca se vendeu tanto livro neste país, é verdade, mas todos são estrangeiros.

10. A partir de sua experiência pessoal, o que poderia dizer para aqueles e aquelas que pretendem publicar livros?
Revisem pelo menos três vezes, façam uma capa bonita e trabalhem pessoalmente nas vendas. As relações de trabalho e de comércio estão se despedaçando dia após dia e eu acredito que no futuro próximo (menos de cinco anos) que a única coisa que vai ter valor é o trabalho autônomo e independente das grandes corporações. Quem viver, verá.
Obrigado pelo espaço, meu grande amigo Ricardo Faria.

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